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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

O Espiritismo e a Maçonaria



A origem da Maçonaria remonta aos povos mais antigos e vem

acompanhando, dentro dos rigores da sua tradição secreta e ritualista, cada

passo da civilização humana, nela influenciando sobretudo através da

presença dos maçons nas mais diversas profissões.

Em um livro admirável sobre o assunto, o nobre maçom Luiz Prado,

depois de lembrar que a trilogia Liberdade, Igualdade e Fraternidade é a

divisa imortal do verdadeiro maçom, explica que a Maçonaria, na “sua

trajetória gloriosa, tomou as denominações de ‘Ordem dos guardas da lei

das doze tábuas’, ‘Ordem dos Essênios’, ‘Ordem dos Templários’, ‘Ordem

do Cardo’, ‘Associação dos Pedreiros-livres’ e outras mais. Prossegue

dizendo que o “reflexo da atual Maçonaria deve ter feito sentir-se nos

tempos de Moisés, na Palestina dos Romanos e no Continente do Velho

Mundo.”

No tocante ao significado vernacular, diz ele que o “vocábulo —

Maçonaria — derivou do termo francês — maçon — que, traduzido para o

português, quer dizer — ‘pedreiro’. Eis como se justifica o motivo dos

maçons serem conhecidos como ‘pedreiros-livres.”1

A propósito, reina até hoje no movimento espírita uma séria dúvida

em saber se Allan Kardec (ou Hippolyte Léon Denizard Rivail, seu nome

civil) teria ou não teria sido maçom. Não que isso tenha importância capital

para a Doutrina Espírita, mas permitiria conhecer melhor a opinião de Allan Kardec sobre a instituição maçônica. Contudo, referida dúvida ainda não

pôde ser devidamente esclarecida.

Com efeito, André Moreil, conceituado biógrafo de Kardec, parece

inclinado a responder positivamente, escrevendo que “não se sabe em que

loja foi iniciado Denizard Rivail. Isto pouco importa. Os princípios eram os

mesmos. Eis a definição ideológica da Maçonaria, segundo o Larousse do

século XIX:

‘A Maçonaria tem por fim a melhoria moral e material do homem;

por princípios, a lei do progresso da Humanidade, as idéias filosóficas de

tolerância, fraternidade, igualdade e liberdade, abstração feita da fé

religiosa ou política, das nacionalidades e das diferenças sociais.

‘O Espiritismo moral e social iria dizer justamente a mesma coisa. Os

princípios filosóficos são absolutamente idênticos:

a) Existência de Deus.

b) Imortalidade da alma.

c) Solidariedade humana.”2

Entretanto, depois de profunda investigação e minuciosos estudos,

Zêus Wantuil, chegou à conclusão de que “... apenas existiu, entre Rivail e a

Maçonaria, afinidade de princípios e ideais, sem jamais haver ele ingressado

em loja alguma. É certo que sempre viu com simpatia a franco-Maçonaria,

mas isto não implica nem prova qualquer adesão oficial da parte dele.”3

Deixando de lado essa polêmica, a verdade é que o Espiritismo e a

Maçonaria têm inegáveis pontos em comum, e juntos poderão acelerar o

progresso da Humanidade e o estabelecimento da justiça social, sobretudo

através da perfeição moral dos espíritas e dos maçons.



Seguindo então o nosso objetivo de pesquisar assuntos de interesse

atual nas obras de Allan Kardec, verificamos que na sessão da Sociedade

Espírita de Paris do dia 25 de fevereiro de 1864, várias dissertações foram

obtidas sobre o concurso que o Espiritismo poderia encontrar na FrancoMaçonaria, que depois foram publicadas na Revista Espírita de Abril de

1864. Comunicaram-se naquela oportunidade os Espíritos Guttemberg

(Médium: Sr. Leymarie), Jacques de Molé (Médium: Srta. Bréguet) e o

franco-maçom Vaucanson (Médium: Sr. D’Ambel). Vejamos a seguir

algumas considerações que extraímos daquelas brilhantes comunicações,

usando o método de perguntas e respostas:

P. Qual a importância social da Maçonaria?

R. “As instituições maçônicas foram para a sociedade um

encaminhamento à felicidade. Numa época em que toda idéia liberal era

considerada um crime, os homens necessitavam de uma força que,

inteiramente submissa às leis, não fosse menos emancipada por suas

crenças, por suas instituições e pela unidade de seu ensino. Nessa época a

religião ainda era, não mãe consoladora, mas força despótica que, pela voz

de seus ministros, ordenava, feria, fazia tudo curvar-se à sua vontade; era

um assunto de pavor para quem quisesse, como livre pensador, agir e dar

aos homens sofredores alguma coragem e ao infeliz, algum consolo moral.

Unidos pelo coração, pela fortuna e pela caridade, nossos templos foram os

únicos altares onde não se havia desconhecido o verdadeiro Deus, onde o

homem ainda podia dizer-se homem, onde a criança podia esperar

encontrar, mais tarde, um protetor, e o abandonado, amigos.”

P. Existe alguma afinidade entre a Maçonaria e o Espiritismo?
R. “Que é o que se pede a todo maçom iniciado? Crer na imortalidade

da alma, no Divino Arquiteto, ser benfeitor, devotado, sociável, digno e

humilde. Ali pratica a igualdade na mais larga escala. Há, pois, nessas

sociedades uma afinidade com o Espiritismo de tal modo evidente que salta

aos olhos.”

P. E os maçons conhecem o Espiritismo?

R. “A questão do Espiritismo foi posta em ordem do dia em várias

lojas e eis o resultado: leram volumosos relatórios muito confusos a este

respeito, mas não o estudaram a fundo, o que fez que nisto, como em muitas

outras coisas, discutissem matéria que não conheciam, julgando por ouvir

dizer, mais do que pela realidade. Contudo muitos maçons são espíritas e

trabalham muito na propaganda desta crença. Todos escutam, e se o hábito

diz não, a razão diz sim.”

P. A Maçonaria já aceita as idéias espíritas?

R. “O Espiritismo é uma irresistível corrente de idéias, que deve

ganhar todo o mundo. É questão de tempo. Ora, seria desconhecer o caráter

da instituição maçônica, crer que esta concorde em se anular, representar

um papel negativo em meio ao movimento que impele a Humanidade para a

frente; crer que ela apague o facho, como se temesse a luz. Esperai, então.

Porque o tempo é um recrutador sem igual; por ele as impressões se

modificam e, necessariamente, no vasto campo dos estados abertos nas

lojas, o estudo espírita entrará como complemento, porque isto já está no ar.

Riram, falaram; não riem mais: meditam.

“Assim, então, tereis uma pepineira espírita nessas sociedades

essencialmente liberais. Por elas entrareis plenamente neste segundo

período, que deve preparar as vias prometidas. Os homens inteligentes da

Maçonaria vos bendirão por sua vez; pois a moral dos Espíritos dará um

corpo a essa seita tão comprometida, tão temida, mas que tem feito mais

bem do que se pensa.”

P. Como e quando isto acontecerá?

R. “Tudo tem um parto laborioso, uma afinidade misteriosa; e se isto

existe para o que perturba as camadas sociais, é muito mais verdadeiro para

o que conduz o progresso moral dos povos. Ainda alguns dias, e o

Espiritismo terá transposto o muro que separa a maioria das paredes do

templo dos segredos; e, nesse dia, a sociedade verá florescer no seu seio a

mais bela flor espírita que, deixando suas pétalas caírem, dará uma semente regeneradora da verdadeira liberdade. Agora, glória ao Grande Arquiteto!”


  •  
  • Fontes utilizadas pelo Autor:

    PRADO, Luiz. Ao pé das colunas. Rio, Ed. Mandarino, 3ª ed., pp. 13 ss. 

    MOREIL, André. Vida e obra de Allan Kardec. SP, Edicel, 1986, Trad. Miguel Maillet p. 41.

     3 WANTUIL, Zêus, et alii. Allan Kardec. (Meticulosa Pesquisa Biobibliográfica.), Rio, FEB,
    1979, Volume I, p. 161. 

    Autor: Eliseu Mota Junior.
    Artigo originalmente publicada na Revista Espírita do Espiritismo em
    Fevereiro de 1998.

    Observação: Reprodução de Artigo autorizada pelo autor.
    Nossos sinceros agradecimentos a ele. 

    sábado, 9 de novembro de 2013

    Conhecer-se a si mesmo



    O que muitas vezes impede que vos corrijais de um

    defeito, de um vício, é, certamente, o fato de não perceberdes que

    o tendes. Enquanto vedes os menores defeitos do vizinho, do

    irmão, nem sequer suspeitais que tendes as mesmas faltas, talvez

    cem vezes maiores que as deles. Isto é conseqüência do orgulho,

    que vos leva, como a todos os seres imperfeitos, a não achar

    nada de bom senão em vós. Deveríeis analisar-vos um pouco

    como se não fôsseis vós mesmos. Imaginai, por exemplo, que

    aquilo que fizestes ao vosso irmão, foi vosso irmão que vos fez.

    Colocai-vos em seu lugar: que faríeis? Respondei sem segundas

    intenções, pois acredito que desejais a verdade. Fazendo isto, estou

    certo de que muitas vezes encontrareis defeitos vossos que antes

    não havíeis notado. Sede francos convosco mesmos; travai

    conhecimento com o vosso caráter, mas não o estragueis, porque

    as crianças mimadas muitas vezes se tornam más e aqueles que as

    mimam em excesso são os primeiros a sentir os efeitos. Voltai um

    pouco o alforje onde são colocados os vossos e os defeitos alheios.

    Ponde os vossos à frente e os dos outros para trás e tende cuidado

    para não baixar a cabeça quando tiverdes vossa carga à frente.

                                                                                                    La Fontaine.

    Retirado: Revista Espírita de 1863

    Deus Não se Vinga


    O que precede não passa de um preâmbulo destinado a servir de introdução a outras idéias.
    Falei-vos de idéias preconcebidas, mas há outras além das que vêm das inclinações do
    inspirado; há as que são conseqüência de uma instrução errônea, de uma interpretação acreditada num tempo mais ou menos longo, que tiveram sua razão de ser numa época em que a razão humana
    estava insuficientemente desenvolvida e que, passadas ao estado crônico, só podem ser modificados por esforços heroicos, sobretudo quando têm para si a autoridade do ensino religioso e de livros reservados.
    Uma destas idéias é esta: Deus se vinga.
    Que um homem, ferido em seu orgulho, em sua pessoa ou em seus interesses, se vingue, isto se concebe; embora culpado tal vingança está dentro dos limites das imperfeições humanas.
    Mas um pai que se vinga nos filhos levanta a indignação geral, porque cada um sente que um pai, encarregado da tarefa de criar os seus filhos, pode corrigir-lhes os erros e os defeitos por todos os meios ao seu alcance, mas a vingança lhe é interdita, sob pena de tornar-se estranho a todos os direitos da paternidade.
    Sob o nome de vindita pública, a sociedade que desaparece vingava-se dos culpados; a punição infligida, muitas vezes cruel, não passava de vingança sobre as más ações do homem perverso; ela não se preocupava absolutamente com a reabilitação desse homem, deixando a Deus o cuidado de o punir ou de o perdoar. 
    Bastava-lhe ferir pelo terror, que julgava salutar, os futuros culpados.
     A sociedade que surge não pensa mais assim; se ainda não age em vista da reeducação do culpado, ao menos compreende o que a vingança contém de odioso por si mesma; salvaguardar a sociedade contra os ataques de um criminoso lhe basta e, ajudada pelo temor de um erro judiciário, em breve a pena capital
    desaparecerá dos vossos códigos.
    Se hoje a sociedade se julga muito forte em frente a um culpado para se deixar tomar pela cólera e dele vingar-se, como quereis que Deus, participando de vossas fraquezas, se deixe tomar por um sentimento irascível e fira por vingança um pecador chamado ao arrependimento?
     Crer na cólera divina é um orgulho da Humanidade, que se imagina pesar bastante na balança divina.
    Se a planta do vosso jardim não se desenvolve a contento, ireis encolerizar-vos e vos vingar dela? Não; se puderdes a soerguereis, apoiá-la-eis em estacas e, se necessário, a transplantareis, mas não
    vos vingareis. Assim faz Deus.
    Vingar-se, Deus? que blasfêmia! que amesquinhamento da grandeza divina! quanta ignorância da distância infinita que separa o Criador da criatura! 
    Quanto esquecimento de sua bondade e de sua justiça! 
    Deus viria, numa existência em que não vos resta nenhuma lembrança dos vossos erros passados, fazer-vos pagar muito caro as faltas cometidas numa época apagada em vosso ser!
    Não, não! Deus não age assim; ele entrava o impulso de uma paixão funesta, corrige o orgulho inato por uma humildade forçada, retifica o egoísmo do passado pela urgência de uma necessidade presente, que leva a desejar a existência de um sentimento que o homem nem conheceu, nem experimentou.
     Como pai, corrige, mas, também como pai, Deus não se vinga.
    Guardai-vos dessas idéias preconcebidas de vingança celeste, detritos perdidos de um erro antigo. 
    Guardai-vos dessas tendências fatalistas, cuja porta está aberta para vossas doutrinas novas e que vos conduziriam diretamente ao quietismo oriental. 
    A parte de liberdade do homem já não é bastante grande para diminuí-la ainda mais por crenças errôneas; quanto mais sentirdes vossa liberdade, sem dúvida maior será a vossa responsabilidade e tanto mais os esforços de vossa vontade vos conduzirão adiante, na senda do progresso.
                                                                                                                                         Pascal

    RETIRADO: Revista Espírita de  Maio 1865